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terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Investimento Pesado

Não são as ervas más que afogam a boa semente, e sim a negligência do lavrador.
(Confúcio)


No início de seu ministério, Jesus utilizava elementos bem literais em seus sermões, fazendo uma analogia pratica entre itens do cotidiano e a verdade sobre o Reino dos Céus (a ferpa no olho, a casa sobre a montanha e os pássaros). Uma mensagem simplificada e palatável para todas as camadas sociais de seu tempo. Porém, com a recusa dos judaizantes em aceitar a mensagem, e a recriminação pública que os religiosos praticavam contra sua pregação, Jesus lançou mão de um recurso literário muito comum entre os judeus e passou a ensinar por parábolas.

Basicamente, “parábola” (no contexto bíblico) trata-se de uma história terrena com um significado espiritual. Uma mensagem em “camadas”. Conteúdo que transcende o discurso. Ensinamentos incrustados nas entrelinhas.  O total entendimento da mesma, só é possível se o ouvinte (ou o leitor) estiver disposto (e apto) para buscar a verdade além das palavras. Assim, aqueles que de fato desejavam compreender profundamente a mensagem de Cristo, eram instruídos com doutrinas eternas detalhadas com riqueza de minucias, mas, para os que “ouviam por ouvir”, aquelas “histórias” não passavam de fábulas esquecíveis. Ao ser questionado por seus discípulos sobre este novo método de ensino, o próprio Jesus explicou:

– “Por essa razão eu lhes falo por parábolas: Porque vendo, eles não vêem e, ouvindo, não ouvem nem entendem. Neles se cumpre a profecia de Isaías: ‘Ainda que estejam sempre ouvindo, vocês nunca entenderão; ainda que estejam sempre vendo, jamais perceberão. Pois o coração deste povo se tornou insensível; de má vontade ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os seus olhos. Se assim não fosse, poderiam ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, entender com o coração e converter-se, e eu os curaria’. Mas, felizes são os olhos de vocês, porque vêem; e os ouvidos de vocês, porque ouvem” (Mateus 13:10-17).

Umas das mais famosas parábolas contadas por Jesus, aos ouvidos incautos pode parecer apenas uma publicidade bancaria para atrair investidores, quando na verdade nos revela muito sobre a grande responsabilidade que repousa em nosso “ministério” individual. 

A história é mais ou menos assim...

Um homem muito rico convocou alguns de seus funcionários mais leais, e confiou a cada um deles, altas quantias em dinheiro vivo. Para uns mais, e a outros menos. Todos foram orientados a administrarem bem a verba recebida, enquanto ele estivesse ausente do país. O que fariam com o dinheiro, ficava a cargo da criatividade e competência de cada um. A moeda corrente utilizada nesta transação, era conhecida como “talento”.

Quando o empresário retornou de seu “tour” pelo mundo, os funcionários foram convocados para a prestação de contas. O primeiro, (que tinha recebido cinco talentos) informou ao seu senhor, que havia investido aquela quantia, e com muito trabalho, dobrado o capital. O senhorio ficou tão entusiasmado com este resultado, que decidiu recompensar o seu empregado, repassando para ele os dez talentos acumulados.

O mesmo aconteceu com o segundo funcionário, que por sua vez, havia transformado em quatro, os dois talentos recebidos.

Mas quando o terceiro empregado se apresentou, tinha nas mãos apenas o talento que inicialmente lhe fora confiado. Ele explicou ao patrão, que em decorrência de ter recebido “menos” que os demais, preferiu não correr riscos. Assim, em nome da “segurança patrimonial”, manteve o seu talento trancado em um cofre, para devolve-lo intacto. Integral.

O patrão ficou furioso com tamanha negligencia. Ele não era o tipo de empresário que tolerava a inércia do seu dinheiro. Descrevia a si mesmo como sendo um “homem duro que ceifava onde não se semeava e ajuntava onde não espalhava”. Não foi surpresa para ninguém, quando sua ira se acendeu contra o servo “excessivamente” cauteloso. Com a boca espumando e os olhos flamejantes, o senhorio esbravejou:

- "Servo mau e negligente, quanto prejuízo você me deu... Se ao menos tivesse depositado meu dinheiro em um banco!" 

Então aquele homem de coração enrijecido, indignado como o “prejuízo” decorrente da negligencia, ordenou que o servo improdutivo fosse demitido, e o portas fechadas sob suas costas, para nunca mais se abrirem.

No sentido pragmático, o talento desta história refere-se a uma medida de massa utilizada pelo comércio da época para medir ouro e prata. Cada talento pesava aproximadamente 32 Kg (guarde este número). Mas, lembre-se. Jesus estava contando uma “parábola”. É preciso escavar um pouco mais. Enxergar além das palavras ditas. O Mestre queria transmitir aos seus seguidores uma profunda mensagem espiritual escondida nas entrelinhas. E os discípulos que se mantiveram atentos, puderam aprender uma verdade valiosa sobre o Reino dos Céus...

Todos somos servos, e recebemos de nosso Senhor alguns “talentos” que devem ser “empregados” para que haja expansão de seu Reino aqui na terra. O Senhor toca a humanidade pelas nossas mãos e caminha sobre as ruas das cidades através de nossos pés. O representamos. Fomos selecionados para esta importante tarefa. Carteira assinada como embaixadores dos céus. E Deus nos capacita para este trabalho. Nem todos possuem as mesmas aptidões e destreza, mas ninguém foi convidado a fazer turismo. As pequenas partes formam um todo. Um ajudando ao outro e Deus velando por todos nós.  

Dentro de seu ouvido, existe um pequeno "sistema operacional" chamado de "aparelho vestibular", formado pelo vestíbulo, o sáculo e o utrículo. Ele se liga a cóclea, que é o centro de nosso sentido de audição. O nome desta pequena parte de seu organismo é "Labirinto". É bem possível que você sequer soubesse da existência de um "utrículo" dentro de seu ouvido, mas ele está lá. E espero que esteja funcionando bem. Esta região quase desconhecida da sua anatomia, é responsável por te manter em pé enquanto caminha. O centro do equilíbrio corporal. Já ouvir falar de labirintite? De se sentir sobre um prédio de cem andares mesmo estando no chão? A sensação de embriagues sem ter ingerido álcool

O "labirinto" não tem a relevância de um coração. Não é examinado com a mesma regularidade dos pulmões. E isto não diminui sua importância real. O propósito que exerce no corpo. Se ele decide parar de funcionar corretamente, tudo desaba.

Assim é o Reino de Céus. Dividido em tarefas. Distribuído em cotas especiais. O talento. Os talentos. Alguns, em decorrência de sua capacidade pessoal,  vida devocional diferenciada ou inquestionável escolha divina, recebem “mais” do que outros. Os valores, porém, são apenas detalhes. O fato realmente determinante, é que “todos” são agraciados (ou seria responsabilizados?) com um generoso “capital de giro”.

Muitas vezes, por acharmos que comparado aos demais, nosso talento é pequeno e indigno de ser trabalhado, acabamos presos numa zona de conforto chamada “omissão”. É comum alguém pensar que seu “talento” é tão insignificante, que não faz a menor diferença mantê-lo no “mercado”. E o esconde trancado em um cofre. Este cofre tem muitos nomes. Medo. Insegurança. Complexo de Inferioridade. 

- A igreja não precisa de mim.
- Que importância posso ter para o Reino?
- Qual o meu valor?
- Não tenho nada para apresentar ao Senhor...

Será que realmente existem mendigos da fé, para os quais o Senhor deposita apenas moedinhas numa caneca de lata esquecida no chão, enquanto bilionários espirituais andam de jatinhos banhados a ouro? Seguramente, está não é a verdade. Nosso Deus é dono do ouro e da prata, e não mede despesas ao investir em seus “corretores” aqui na terra. Eu e você. E isto nada tem a ver com ostentação ou sucesso financeiro. Quanto mais recebo de Deus, mais eu diminuo para que ele cresça.

 - Mas, Miquéias... Eu só tenho um mísero talento. O que posso fazer com ele?

Você pode começar pesquisando a tabela de câmbio. Se dedicar a uma matemática simplista e entender os números. Alguma vez na vida, você já parou para pensar no valor real de um único talento?

Primeiro vamos analisar o lado prático da questão. Considerando que atualmente, você pode comprar 100 gramas de prata pela bagatela de R$ 381,00; e cada grama de ouro chega a valer até R$ 245,00; podemos concluir que o servo negligente teria recebido em valores modernos cerca de R$ 121.000,00 (caso o talento fosse de prata), e sendo ele de ouro, esse valor subiria para... R$ 7.840.000,00... Quase oito milhões de reais!

Dá para esconder um valor destes?  É pouco o investimento feito pelo Senhor em seus servos menos “capacitados”? É digno se sentir menosprezado recendo uma fortuna espiritual nas mãos?

Deus investiu pesado em você, usando uma moeda que vale mais que prata ou ouro. O sangue de seu Filho. A unção do Santo Espírito. Valores incorruptíveis, blindados contra as oscilações financeiras. Um tesouro eterno confiado em nossas mãos, e que deve ser usado para angariar novos bens que farão transbordar a casa da moeda celestial. Almas e almas. A riqueza patrimonial de Deus.  

Mas, cuidado. Ao ter em mãos tamanha fortuna, aja com cautela e responsabilidade. Jamais se deslumbre com valores estratosféricos, pois espiritualmente falando, é preciso fazer com que esses números se multipliquem cada vez mais. E mais. Nunca é o bastante. O mundo possui quase oito bilhões de pessoas sedentas de Deus, e maioria caminha em direção a morte, sem se quer admitir a própria sede. É preciso fazer valer cada centavo. Cada grama de nosso talento. Usá-los integralmente para o crescimento do Reino. E continuar trabalhando mesmo que os cofres estejam abarrotados. 

Lembre-se que no dia da prestação de contas, a quem muito foi “dado” também muito será “cobrado”. Deus é mui generoso e investe prazerosamente em cada um de nós. Só que o dia do acerto, de contas, Ele será austero e implacável. Não haverá desculpas capaz de convence-lo, e cofres lacrados não justificarão nossa improdutividade. A pergunta que ecoará pela eternidade é: - O que fizestes dos talentos que te dei?

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