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quinta-feira, 22 de março de 2018

Você aceita ser um milionário?

  A adversidade é nossa mãe; a prosperidade é apenas uma madrasta.
(Barão de Montesquieu)


- Há alguém aqui em nosso meio que gostaria de aceitar a Jesus como seu único e suficiente Salvador?

Tenho ouvido esta pergunta (ou seria convite?) nas últimas três décadas sem jamais me cansar dela. Na verdade, se um culto termina sem que este apelo seja repetido à exaustão, alguma coisa fica terrivelmente fora do lugar. Nada é mais prazeroso ao cristão, do que testemunhar uma alma se rendendo ao Senhor Jesus. Celebração na terra e festança no céu.

Particularmente, eu prefiro reformular a pergunta para deixá-la mais contextualizada com essência da “oferta e procura”. Cristo não é uma mercadoria sendo exposta na prateleira para possíveis compradores. Ele não é item de catálogo à ser avaliado por consumidores. Quem é o homem para estabelecer parâmetros que justifiquem o “ACEITO” / “NÃO ACEITO”? Assim, me soa bem mais pertinente o convite feito de maneira irrecusável (louco é quem o recusa), colocando Jesus - O Cristo, no posto que realmente lhe faz jus:

- Há alguém em nosso meio que deseja entregar sua vida para Jesus Cristo, nosso único e suficiente Salvador?

Questões de semântica. O que realmente importa é que Jesus Cristo seja anunciado a toda humanidade. Absoluto. Suficiente. Não se faz necessários maiores benefícios. Sim, é claro que Jesus cura, batiza, transforma, liberta, resgata, regenera, justifica, abençoa e purifica. Mas, estes são apenas detalhes. Jesus salva! Este é o ponto. Todo o resto é bônus. Nada de direitos adquiridos, apenas favores imerecidos.

Infelizmente, nossa geração é gananciosa. Filhos da Sanguessuga (Provérbios 30:15). No afã por “conquistar o impossível”, desprezamos o possível. Banalizamos o essencial. A Salvação encontrada em Cristo deixou de ser suficiente. Visando este "mercado", as denominações concluíram a mesma coisa. É preciso oferecer mais que Jesus. Ter um produto exclusivo que atraia consumidores. E não se engane. Todas as igrejas, independente do placa, nome ou escola teológica, tem seu catalogo à disposição. Umas oferecem liberdade, outras ofertam legalismo. Música. Arte. Exorcismo. Dogma. O “cardápio” no restaurante da fé é vasto. Prato para todos os gostos. E se a consumação mínima for respeitada, Jesus é cedido como uma cortesia. Brinde no canto da bandeja.

E nada é mais atraente para as massas que o evangelho mercantilista. Aquele que equipara Jesus a uma espécie de “Rei Midas”, capaz de transformar a cruz inerente a jornada cristã, em barras cruzadas de ouro. A riqueza prometida estampada nos cartazes, enquanto o nome de Jesus aparece apenas nas letras miúdas. Templos abarrotados por multidões ansiosas pelo sucesso, buscando nada mais que dinheiro e poder. Prosperidade. Casas. Carros. Viagens. Glamour. Ofertas de seis dígitos para gerar contas bancárias de zeros infinitos.

E os lobos que se alimentam apenas com a carne das ovelhas, já descobriram a fórmula do crescimento instantâneo. Ministérios “miojos”. Basta mudar completamente a pergunta que por anos tem transformado a vida de milhares. Não com o propósito de melhor contextualizá-la, mas sim, para deturpar sua essência, e torná-la mais atrativa. 

- Você quer entregar sua vida para Jesus?  Imagine esta indagação sendo feita a cada indivíduo existente na terra. Pergunta simples e direta. Sem explicações. Apenas duas alternativas. Qual a porcentagem das pessoas que diriam “SIM”? Baixíssima, creio eu... Descaso, desinteresse, desconhecimento. Seriam muitos os argumentos justificando a baixa aceitação.

Vamos revisitar o questionário. Imagine-se diante de cada morador deste planeta, repetindo para todos a mesma pergunta, porém, sob nova perspectiva: – Você deseja ser um milionário? Aceite a Jesus, Ele certamente te deixará rico! Qual seria a porcentagem de aceitação? Provavelmente, centenas de vezes maior! Jesus se torna mais atrativo, quando seu nome vem rodeado de cifrões.

Talvez você esteja neste instante, torcendo a nariz para estas palavras. Sente-se afrontado com meu pensamento "miserável" e desprovido de “ambição gospel”. Provavelmente já puxou pela memória algum versículo que justifique a doutrina do “querer é poder” pulverizada na cristandade moderna.

- A Bíblia diz que uma vez que entregamos nossa vida para Jesus, todas as coisas boas deste mundo, aquelas que sonhamos e desejamos, também nos serão entregues.  A promessa de Deus para seus filhos é que eles serão prósperos!

Sério? Onde foi lavrado este contrato, porque ainda não o assinei. Acho que preciso me reunir com o RH dos Céus e rever algumas cláusulas. Me sinto injustiçado já que Deus ainda não me deixou rico, mesmo depois de décadas me devotando ao seu Reino. Talvez, o que precisamos mesmo, é urgentemente revisitar a essência do evangelho, e reaviar os próprios conceitos de riqueza, sucesso e prosperidade.

Prosperidade vem do latim “prosperĭtas”, que remete a ideia de “êxito naquilo se pretende fazer”. O termo também pode ser entendida como uma situação favorável, boa sorte ou sucesso. Pois é exatamente isso que a Bíblia promete a todos os que se mantem fiel ao Senhor e buscam seu Reino acima de tudo. Entretanto, nossa geração tem confundido prosperidade com riqueza material, e este erro, infelizmente, mina e deteriora a fé de muitos cristãos, que erroneamente tem se proposto a viver do evangelho por achar que assim, todos os seus desejos serão realizados e que irão, em tempo integral, navegar num mar de rosas sob céu de brigadeiro.

Davi foi categórico ao afirmar que em toda a sua vida nunca havia visto um justo desamparado ou os seus filhos mendigando pão (Salmo 37:25). Mas, ter pão em casa, não significa necessariamente que haverá uma mesa farta para o café da manhã. Como já disse o filosofo inglês Francis Bacon, “a prosperidade não está isenta de muitos temores e desprazeres, assim como a adversidade não está desprovida de conforto e esperança” A promessa para o cristão fiel é sim de “prosperidade”. Sucesso diário em seus afazeres. E isto significa que Deus proverá aos seus filhos os "viveres básicos", como roupas e alimentos. Pode não sobrar, mas certamente, nunca faltará. E o texto bíblico que deixa está verdade mais límpida que as águas cristalinas da Ilha Linapacan, é o exato verso que lhe reverbera na mente como se André Agassi e Roger Federer jogassem tênis usando como bola os seus pensamentos. Mateus 6:33:

Buscai, assim, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.

Muitos pregadores modernos usam este verso para ensinar seus ouvintes que uma vez buscado o Reino de Deus, todas as coisas serão agregadas automaticamente em vidas. O bom e o melhor. O “muito” e o “mais ainda”.  Nada disto. Esta espiritualização do material é uma interpretação incorreta do ensinamento de Jesus. Aqui, o mestre não fala de “todas as coisas”, mas sim, sobre “estas coisas”. E que “coisas” seriam estas?

Sermão da Montanha. Basta uma leitura rápida no contexto para entender que Jesus ensinava aos seus discípulos o “A-B-C” do cristianismo. Percebendo neles certa preocupação com os subsídios materiais para se lançar intensamente na pratica da fé (abandonar as redes certamente abriria um rombo no orçamento doméstico), lhes expôs uma nova realidade espiritual:

-  Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura? 

E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; e eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?


Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas. Buscai, assim, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas (Mateus 6:25-33).

Jesus fez sim uma promessa de prosperidade aos seus discípulos, dizendo a eles que a “fidelidade” na busca pelo Reino de Deus resultaria em provisão diária do que comer, beber e vestir. O grande Jeová Jireh cuida de seus filhos providenciando os víveres básicos inerentes ao dia a dia (lembre- se da oração modelo: “o pão nosso de CADA DIA nos daí HOJE”). Se estamos alimentados, saciados e vestidos, Deus tem sido fiel com sua promessa. Somos, de fato, prósperos e muito bem-sucedidos. 

Se aprendemos a viver sobre o cuidado de Deus, e o Senhor por sua vez, não tem negado seu cuidar, toda a nossa vida passa a fazer completo sentido. Sucesso absoluto. Êxito total. Minhas roupas desbotadas provam a minha prosperidade. A marmita que levo para o trabalho prova a minha prosperidade. A garrafa PET com água na geladeira de casa prova a minha prosperidade. O maná caindo dos céus toda manhã. Sobrevivência garantida, enquanto em Cristo, encontro propósito, segurança, refrigério e salvação. Dá para ter mais sucesso que isto? Como sempre diz meu pai, Pr. Wilson Gomes, “a maior prosperidade de um homem é deitar-se em sua cama e conseguir dormir em paz”

Mas, Deus é bom além da nossa compreensão. Quando nos rendemos a supremacia de Jesus, permitindo que Ele seja absoluto em nosso viver, as janelas dos céus se abrem.  Somos presenteados comum novo alvorecer a cada dia, repleto de novas possibilidades. O Senhor renova nossas forças e nos propicia o fôlego de vida, para que possamos lutar por regalias adicionais. O possível é um sonho que repousa na mão direita, apenas aguardando o momento de acordar. E o despertador está na esquerda. Faça a sua parte, enquanto Deus faz a Dele. Lembre-se sempre das palavras de C.S Lewis: - Deus sussurra a nós na saúde e prosperidade, mas, sendo maus ouvintes, deixamos de ouvir a voz de Deus. Ele gira o botão do amplificador por meio do sofrimento. Aí então ouvimos o ribombar de sua voz.

Aceite o convite. Entregue-se a Cristo. Por que Ele é. E então, Ele faz. A despensa do crente pode estar vazia, mas sobre sua mesa haverá alimento diário. Em sua alma também. Priorize ao "Senhor das Bênçãos", ao invés de priorizar as "Bênçãos do Senhor".  Deste modo, mesmo em tempos de guerra, você encontrará regaços de paz. Ainda que o mundo a sua volta esteja desmoronado, sua casa permanecerá firmada e tua família se manterá em pé. Maior prosperidade, duvido existir.

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