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sábado, 6 de maio de 2017

O valor de uma alma

Enquanto o poço não seca, não sabemos dar valor à água.
(Thomas Fuller)


O capítulo 15 de Lucas pode muito bem ser chamado de “Achados e Perdidos”. Jesus estava sendo duramente criticado pelos religiosos de sua época em decorrência da proximidade que mantinha com “publicanos e pecadores”, quando lhes propôs uma série de parábolas sobre desencontros e reencontros. 

Um pastor dedicado que perde sua ovelha, uma dona de casa descuidada que não consegue encontrar seu “talismã” e um pai amoroso que vê seu filho lhe dar as costas em direção ao mundo.

Todos estes personagens viveram momentos de tristeza em decorrência de suas percas, mas, não se conformaram em viver com a ausência daquilo que fora perdido. Ao perceber que uma das ovelhas havia se desgarrado, o bom pastor conduziu sua grei para a segurança do aprisco, e saiu pelas campinas procurando a ovelhinha querida. Ele subiu montanhas, desceu por vales, caminhou entre espinheiros, chamando insistentemente pelo nome de sua protegida. Finalmente a encontrou no final de um penhasco, presa num arbusto, vitimada pela queda. Ferida, a ovelha estava condenada à morte. Porém, o pastor não mediu esforços para resgatá-la. Ele verteu bálsamo em suas feridas, a pôs carinhosamente sobre os ombros e voltou para casa com júbilo e alegria, pois havia reencontrado alguém que lhe era precioso. 

A segunda história é sobre uma mulher que se desespera ao dar conta que havia perdido uma moeda de valor emocional inestimável. Ela acende as lâmpadas, move a mobília e varre toda a casa procurando sua dracma. Quando finalmente a moedinha é encontrada, a mulher chama suas amigas e promove uma festa de celebração.

O último relato é sobre um pai e seus dois filhos. Eles formavam uma família feliz que vivia em plena harmonia, até que o mais novo deles ,decide abandonar o lar para conhecer o mundo. Com o coração pesaroso, o velho homem entrega ao seu caçula, a parte da herança que lhe era de direito, e vê, com lágrimas nos olhos, seu filho afastar-se rumo a uma vida de sonhos coloridos e enganosos. Enquanto o moço vivia inconsequentemente, gastando todos os bens que herdou; o pai mantinha plantão constante no portão da casa, com os olhos fixos na estrada, certo que um dia o seu filho iria voltar. Com o passar do tempo, o dinheiro acabou, e o pródigo se viu sozinho no mundo, desamparado e sentindo muita fome.

Quando chegou ao fundo do poço, decidiu voltar para casa e pedir ao pai que o contratasse com um empregado. Com este pensamento, começou a trilhar o caminho de volta. Quando ainda estava longe de casa, o pai, que perseverava aguardando no portão, o avistou e correu ao seu encontro, abraçando e beijando carinhosamente o filho. Ele ordenou a seus criados que dessem um banho no moço, cortassem seu cabelo e aparassem sua barba. Deu a ele roupas limpas, sapatos novos e pôs em seu dedo o anel da família. Então, o pai convocou uma festa para comemorar aquele esperado reencontro. Seu filho estava perdido, mas foi achado. Estava morto e reviveu.

Com estas histórias, Jesus queria ensinar aos seus ouvintes o valor das pequenas coisas, que a grande maioria sequer pode perceber.

O que é uma ovelha entre outras cem?
Quanto esforço é valido fazer por uma única moeda?
Que tipo de recepção merece um filho rebelde e ingrato?

Na lógica divina (loucura para o homem natural), uma ovelha encontrada vale mais que o mundo inteiro perdido, uma moeda equivale ao maior tesouro do mundo, e o filho pregresso precisa ser coberto de amor e carinho, mesmo sem merecer. Numa visão espiritual, a ovelha desgarrada, a dracma perdida e o filho prodigo representa o homem em suas idas e vindas. 

Como a ovelha, as vezes nos perdemos pelas distrações presentes no caminho.

Como a moeda, em alguns momentos somos deixados num canto e por lá ficamos esquecidos. 

Porém, na maioria das vezes, somos como o pródigo, que por escolha própria se embrenha mundo afora, perdendo-se por decisão consciente.  

Jesus, por sua vez, é o bom pastor que sai ao encontro da ovelha perdida, dando a sua vida por ela (João 11:10). Ele é capaz de mover céus e terra para nos encontrar, quando estamos imersos em ostracismo e estagnação (Isaías 43:3-7). Ele é o pai amoroso que espera ansioso o retorno de todo filho que se afastou (João 6:37).

Quanto vale uma ovelha? 
Quanto vale uma dracma? 
Quanto vale um filho rebelde e mau agradecido? 

Quanto vale uma alma?

O astrofísico norte americano Greg Laughlin, calculou o valor material do planeta Terra em cerca de cinco quatrilhões de dólares. Agregue a este número o valor monetário correspondente a cada um dos mais de sete bilhões de indivíduos do planeta, e teríamos um resultado praticamente impossível de calcular. Pois bem, nem mesmo toda esta imensurável fortuna, sequer, chega perto ao valor de uma única alma diante de Deus (Mateus 16:26).

Isto porque o valor de uma alma é medido pelo Senhor em sentimentos, sendo manifesto num amor que nem mesmo a distância entre céus e Terra pode mensurar (Salmo 103:11).

A Bíblia menciona a raríssima possibilidade de alguém se compadecer de uma pessoa muito boa, ao ponto de dar a vida do próprio filho por ela. Talvez existam pessoas que mereçam um ato de amor tão extremado, e até mesmo uma alma tão altruísta capaz de tamanho beneplácito. Mas, o amor de Deus pelo homem é demostrado no fato que Ele nos deu a vida de seu próprio filho quando ainda éramos maus e pecadores, imerecedores de qualquer compaixão (Romanos 5:8).

Desde então, esse grandessíssimo amor só faz aumentar, potencializado ainda mais pela graça e a misericórdia que emana do trono divino.  Deus nos ama e deseja um relacionamento intenso e verdadeiro com cada um de nós. Feliz é o homem que aceita esse favor e mergulha sem reservas no oceano infindo desse amor, cujas correntezas nos levam rumo a uma eternidade de paz e felicidade.  

Obviamente, como em todo relacionamento, é necessário que se faça concessões, e mesmo Deus não nos devendo nenhum favor, é Ele quem voluntariamente se mostra tolerante aos nossos deslizes. Deus se dispõem a perdoar todas as nossas ofensas, afrontas e pecados, rompantes de preciosismo e hedonismo, lamúrias desmedidas e desatinos sem precedentes. Todas as manhãs, Deus renova sua misericórdia sobre nossa vida e nos dá a chance de vivermos um dia de cada vez, ou invés de simplesmente nos fulminar e do barro recriar um homem melhorado.

Deus convive com nossas imperfeições mesmo sendo perfeito. Ele nos ama com intensidade apesar de nossas prostituições espirituais. Deus continua nos aceitando de volta mesmo depois de virarmos as costas para Ele centenas de vezes. Deus é longânimo, compassivo e terno no trato com o homem, dando a ele inúmeras chances e recomeços diários.

Em decorrência da teimosia, muitas vezes Deus precisa usar de recursos drásticos para chamar nossa atenção e nos direcionar de volta ao caminho. Logo, sua mais severa e punitiva ação nada mais é que um grito de amor. O elo fraco desta relação está exatamente no ser humano. Débil, dúbio e corrompido pelo pecado. Negligenciamos a fidelidade divina, escarnecemos o sacrifício vicário de Cristo e deixamos Deus num plano secundário de nossa vida. Nada fazemos para justificar tamanho amor. Mas, esta realidade terrível não impede que Deus nos ame incomensuravelmente. E em decorrência deste amor, somos atraídos para seus braços e aprendemos a amar.

Embora pecadores, a santidade de Deus nos inicia num processo contínuo de santificação. Mesmo imperfeitos, a perfeição divina nos aponta o caminho para se chegar a estatura de varão perfeito. Em nossos abundantes pecados superabunda a graça de Deus e nossa pequenez é compensada pela grandiosidade do Altíssimo. O poder de Deus se aperfeiçoa em nossas fraquezas.

Quando nós entregamos de corpo e alma a um relacionamento profundo e sincero com Deus, embora ainda revestidos de corruptibilidade, somos feitos herdeiros de Deus, co-herdeiros em Cristo, e esta é uma promessa garantida pela fidelidade do Senhor. Ainda seremos humanos, propensos ao erro e ao fracasso, mas, estaremos abrigados embaixo das asas do Altíssimo, e ali protegidos, não estaremos a mercê do mal. 

Ainda haverá dias de tempestade, mas, Deus nos dará asas para voar acima dela. 

Ainda existirá fornalhas, mas, Deus estará conosco no meio das chamas e elas não nos queimarão. 

Ainda haverá rios e mares para serem atravessados, mais, Deus nos conduzirá pelas águas, e ainda que submersos, não nos afogaremos.

Almas compradas a preço de sangue. Ovelhas guardadas a sombra do onipotente Deus. Moedas recolhidas ao tesouro celestial. Filhos abraçados com carinho pelo Pai da Eterniade.

Não há índices humanos que possam expressar o valor de nossa alma aos olhos de Deus. Por nós, o dono do universo se limitou a uma vida na terra. O Senhor do tempo passou nove meses no ventre de uma mulher. O Rei da Vida, morreu numa cruz vertendo até a última gota de seu sangue. Preciosa graça que nos amarra com cordas de amor (Oséias 11:4).

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