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terça-feira, 11 de abril de 2017

A convenção das árvores

Os povos têm os governantes que merecem.
(Provérbio Judaico)


Josué foi um grande sucessor para Moisés. Porém, morreu sem deixar um novo líder estabelecido. Os anos seguintes foram de muita confusão política e apostasia espiritual. Sem uma liderança compromissada com os desígnios do Senhor, cada um fazia o que achava melhor. Com este senso de justiça corrompido, Israel viveu um de seus períodos históricos mais sangrentos.

Cada tribo passou a tomar suas próprias decisões, baseadas em interesses mesquinhos e disputa por mais poder. Neste tempo, Israel fazia o que era mal aos olhos do Senhor, e como consequência, era subjugado por alguma nação estrangeira. Em meio ao sofrimento, a nação se arrependia de seus pecados, clamava ao Senhor, e Deus levantava um homem dotado de grande fé, que livrava a nação das mãos inimigas. Os juízes.

O ciclo se arrastou por 325 anos interruptos, período no qual Israel teve quatorze juízes diferentes, sendo que alguns deles, julgaram simultaneamente em regiões distintas. Otniel, Eude, Sangar, Débora, Gideão, Tola, Jair, Jefté, Ibsã, Elom, Abdon, Sansão, Eli e Samuel.

Depois da vitória de Débora sobre os cananeus, Israel viveu um período de paz e estabilidade política, até que voltaram a praticar obras de iniquidade. Então, Deus permitiu que por longos sete anos, os israelitas fossem assaltados por hordas de saqueadores, que lhes roubavam os frutos da colheita. Neste tempo, Gideão, que pertencia a tribo de Manassés, foi levantado por Deus com juiz de Israel. Liderou um exército formado por apenas 300 homens, responsável por derrotar milhares de midianitas.

Após este grande feito militar, os israelitas desejaram fazer de Gideão o seu rei. Israel queria ser governada por um monarca, o mesmo sistema político adotado pelas nações vizinhas. Mesmo aceitando os presentes que lhe foram oferecidos pelo povo, Gideão se negou a ser aclamado rei de Israel, e proibiu os israelitas de oferecerem o trono da nação a qualquer um de seus filhos (Juízes 8:27). 

Gideão tinha muitos filhos, e eles foram obedientes a ordem de seu pai. Todos, exceto um. Havia uma ovelha negra naquela família.

O desejo de reinar cresceu como um câncer no coração de Abimeleque. Com um plano macabro muito bem elaborado, ele subiu a Siquem, reuniu os membros de sua família, e os convenceu a serem seus “cabos” eleitorais junto aos moradores daquela cidade com o seguinte discurso: 

“O que julgam ser o melhor para suas famílias: Serem governados por setenta homens filhos de Jerubaal (Gideão), ou que apenas um, cujo sangue é o mesmo que corre em vossas veias, domine sobre você? ” 

Todo o povo se inflamou com o discurso, e fizeram doações em prata para financiar a investida de Abimeleque. Com este dinheiro, ele contratou um grupo de mercenários que o seguiram até a cidade de Ofra, onde habitavam seus setenta irmãos. O que aconteceu naquele lugar, é sanguinolento demais, até mesmo para "Game of Thrones". Usando uma pedra como mesa mortuária, ele decapitou cada um de seus irmãos; exceto Jotão, o filho menor que conseguiu se esconder.

Logo após a matança, ele conclamou aos moradores de Siquem e Bete-Milo, a se reunirem junto ao Carvalho Memorial, e ali foi declarado rei. Poucos dias depois, Jotão, o sobrevivente do massacre, subiu ao monte Gerizim e bradou, afim de que todos o ouvissem: 

- Cidadãos de Siquem, ouçam a minha voz para que Deus ouça a voz de vocês 

O povo ficou curioso para ouvir suas palavras. Que mensagem seriatão importante, ao ponto Jotão colocar em risco sua vida para transmiti-lá? 

Juízes 9:7-21, registra a história que Jotão contou aos moradores da cidade.

Certa vez as árvores se reuniram para escolher seu Rei. Elas, então, disseram a OLIVEIRA:

- Reine sobre nós!

Porém, a OLIVEIRA lhes respondeu:

- Deixaria de produzir meu óleo, que tanto os homens, como o próprio Deus de mim prezam, para pairar sobre as árvores?  Obrigado, mas, não!

Então as árvores conclamaram a FIGUEIRA:

- Venha então você reinar sobre nós!

A FIGUEIRA, no entanto, recusou o convite dizendo:

- Deixaria eu minha doçura, o meu fruto delicioso e iria pairar sobre as árvores?”

Toda aquela assembleia se voltou então para a VIDEIRA e a convidou:

-Venhas tú, e estabelece sobre nós reinado.

A VIDEIRA também se declinou do convite. E argumentou:

- Deixaria eu meu vinho que alegra a Deus e os homens, e iria pairar sobre as árvores?

Como as árvores mais nobres não queriam governar, então todas elas se dirigiram para o ESPINHEIRO dizendo:

- Você gostaria de reinar sobre nós?

E o ESPINHEIRO respondeu:

- Ora, se vocês me ungirem seu Rei, então lhes darei abrigo embaixo de minha sombra, mas, se não ungirem, então que saia fogo do espinheiro e consuma até mesmo os CEDROS do Líbano!

Esta, obviamente, é uma história metafórica que alertava aos siquemitas sobre o perigo de coroarem um homem tão vil como rei sobre eles. A predição de Jotão se realizou três anos depois, quando uma guerra civil deflagrada por Abimeleque levou Siquem a ruína. Entre os atos perversos deste homem, o mais significativo foi incendiar o templo de El-Berite com cerca de pessoas dentro dele. Trancadas entre as chamas criminosas.

O povo se deixou inflamar por um discurso ambíguo e mesquinho, e fez de um homem perverso o seu rei. O preço foi alto. Mais caro do que a nação podia pagar. Provérbios 29:2 nos diz: - Quando os justos florescem, o povo se alegra; quando os ímpios governam, o povo geme. Do adianta depositar nossas esperanças de estabilidade em um "balaio de gatos"? Um espinheiro nada pode dar, a não ser espinhos. 

Mas, a parábola de Jotão nos deixa um outro valioso ensinamento. Existem árvores que põem em risco toda a floresta. 

Uma maçã pobre contamina toda a caixa. Um pouco de fermento leveda toda a massa (Gálatas 5:9). Existe um tipo de praga agrícola chamada “gomose” que provoca manchas por toda a extensão de planta. A laranjeira infectada começa a morrer lentamente, de dentro para fora. Aos poucos, sua casca vai apodrecendo e sua copa fica amarelada. Quando chega a este estágio, onde a doença se torna visível a olhos nus, é muito provável que aquela árvore já tenha infectado todo o pomar. Muitas vezes, na insistência para colhermos frutos mirrados de árvores infectadas, colocamos em risco toda a plantação.

A Bíblia faz inúmeras comparações entre a vida humana e as árvores, e o uso deste tipo de linguagem tem como propósito evidenciar a importância da produção de “bons frutos” ao longo de nossa vida, pois, os resultados dessa “colheita” serão refletidos por toda a eternidade.

Em Gêneses 49:22, José é comparado a uma árvore frutífera a beira da fonte, cujos galhos passam pelos muros. O Salmo 1 revela que o justo é como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo e as suas folhas não caem. Isaías 61:3 identifica os servos de Deus como carvalhos de justiça, plantio do Senhor, para manifestação da sua glória.  Jeremias 17:7-8 diz que o homem que confia no Senhor será como uma árvore plantada junto às águas e que estende as suas raízes para o ribeiro, e assim, não temerá quando chegar o calor, porque as suas folhas estão sempre verdes e no ano da seca não deixará de dar frutos.

Mas, nem todos os homens serão árvores produtoras de bons frutos, e isso dependerá exatamente do tipo de semente que escolhemos plantar no solo de nosso coração. Escolhas incorretas nos levarão a colheitas desagradáveis, e exporão toda a lavoura ao julgamento do justo “lavrador”. Em Cristo, Deus nos disponibiliza as sementes de maior excelência, com as quais podemos semear em abundancia um pomar que renderá frutos de justiça.

Em contrapartida, recebemos do Senhor livre arbítrio para escolher as sementes de nosso plantio. Elas se tornaram árvores grandiosas e pelos frutos produzidos, seremos conhecidos por Deus:

Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis (Mateus 7:16-20).

Cabe a nós decidirmos quais frutos desejamos produzir, para podermos definir o tipo de árvore que desejamos ser no amanhã. Está em nossas mãos a escolha.  Ser uma exuberante Oliveira que com seus frutos aprazem céus e terra, uma frondosa Figueira de produção doce e suculenta, uma Videira capaz de trazer alegria a Deus e aos homens; ou um Espinheiro arrogante que tudo que tem a oferecer é uma sombra ínfima e ameaças cruéis.

O Senhor tem um cuidado especial por sua lavoura, e jamais permitirá que árvores potencialmente prejudiciais permanecem no meio de sua grande plantação. Ele é o “Rei da Floresta”, e jamais um espinheiro presunçoso poderá ocupar este posto. Pelo fruto, Deus dirá que tipo de árvore somos, e em caso de reprovação, até as nossas raízes serão arrancadas:

- Esses homens são rochas submersas nas festas de fraternidade que vocês fazem, comendo com vocês de maneira desonrosa. São pastores que só cuidam de si mesmos. São nuvens sem água, impelidas pelo vento; árvores de outono, sem frutos, duas vezes mortas, arrancadas pela raiz (Judas 1:12).



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