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terça-feira, 21 de março de 2017

Quanto vale a fé?

Aprendi que deveríamos ser gratos a Deus por não nos dar tudo que lhe pedimos.
(William Shakespeare)


O mundo é cada vez mais voraz, e a sociedade de hoje, se tornou frívola e hedonista. Vivemos em prol do capitalismo, buscando obter cada vez mais, afim de padronizarmos nosso estilo de vida as comodidades hodiernas. A necessidade de possuir coisas novas constantemente, inibe nosso senso de gratidão por tudo que já temos. Almejamos mais potência, mais beleza, mais interatividade, maior capacidade de armazenamentos de dados, melhor sinal de satélite, maior cobertura de rede, 4G, wi-fi, tv a cabo, wireless...

São tantas novidades para consumir, que na verdade, acabamos consumidos por elas. E nem percebemos. Num mundo que se comunica com imediatismo, as pessoas quase não se olham nos olhos. Movemo-nos cada vez mais rápido, e a cada ano, um número maior de indivíduos não consegue chegar ao seu destino. A agilidade nos tirou a paciência, o imediatismo nos roubou a esperança, e o consumismo matou a gratidão.

Até o Evangelho, puro e simples, tem sido deturpado por líderes gananciosos que constroem impérios megalomaníacos pregando mensagens recheadas de revanchismo, egoísmo e ambições. Fé virou moeda de barganha, e o Reino Espiritual, passou a ser medido por bens materiais. De muitos púlpitos, estúdios de rádio ou TV, somos bombardeados com promessas de prosperidade, riqueza e fartura. Infelizmente, por falta de maturidade espiritual, muitos sucumbem a esta irresponsabilidade religiosa, e inadvertidamente, acabam decepcionados com “DEUS” quando as coisas não vão bem.

A grande verdade, é que vivemos em uma geração espiritualmente fraca, teologicamente rasa e miseravelmente ingrata.

Em 31 de outubro de 1517, Martin Lutero afixou na porta da Abadia de Westminster – Alemanha, suas 95 teses contra as doutrinas dogmaticas do Catolicismo Romano. A gota d´água que entornou o balde da Reforma Protestante, foi exatamente, a cobrança de indulgências praticada nos templos, onde fieis incautos “pagavam” para “reduzir” sua estada no “purgatório”.

Pagava-se para ver o osso de um apóstolo ou os cravos da cruz de Cristo. Assim, dependendo do “valor” investido, horas, dias e anos iam sendo abatidos no tempo em que a pessoa ficaria no limbo espiritual.  Os reformadores entendiam que lucrar com a fé alheia, é o mais baixo nível que uma instituição religiosa pode descer. Lutero baseou toda a sua tese no texto de Habacuque 2:4, repetido em Romanos 1:17 e Hebreus 10:38: 

- O justo viverá da fé

E fé, é algo que não se negocia.

A palavra indulgência vem do latim e pode ser interpretada como "disposição para perdoar", generosidade, clemência, misericórdia ou absolvição. Nada disso se compra. Se recebe. É gratuito. Na doutrina católica do século XV, a indulgência era a forma do pecador obter perdão parcial de seus pecados fora dos sacramentos. 

Perdão parcial? Fora dos sacramentos?

Biblicamente falando, só existe uma fórmula para a salvação. Crer em Jesus (Marcos 16:16). Esta é a regra. A salvação em Cristo é plena. Não há parcelamento, amortização ou descontos. Valor total e pago a vista através do sangue derramado na cruz. Só Jesus perdoa. Só Jesus tem o poder de salvar.  Ninguém salva a si mesmo. O homem, por mais rico que seja, não tem condições de pagar o preço da redenção: 

- Nenhum deles, de modo algum, pode remir a seu irmão, ou dar a Deus o resgate dele. Pois a redenção da sua alma é caríssima (Salmo 49:7-8).

Não se compra a salvação. Não se barganha a alma. Não se negocia a fé.

Mas, como diriam os antigos, Martin Lutero e todos os reformadores devem estar se “revirando em seus túmulos” com os rumos tomados pelo protestantismo. Líderes de grandes comunidades cristãs tem se dedicado a reinventar, inovar e atualizar a velha indulgência romana. 

Vassouras que varrem o mal da casa. 
Travesseiros que garantem bons sonhos. 
Frascos com ás águas do Rio Jordão. 
Canetas ungidas para assinar grandes contratos. 
Lenços para curar a gripe demoniaca. 
Sal para abençoar o alimento. 
Camisa com marcas de sangue apostólico. 
Taxas. Taxas. Taxas.

Tudo a preço de varejo. E sim. Aceita-se cartão de crédito. Qualquer bandeira.

Como diria minha mãe, não confunda “bife de caçarolinha” com “rifle de caçar rolinha”. Estimular a fé de alguém é uma atitude louvável. Negociá-la é bem diferente. Estas práticas enchem os templos com uma multidão de aleijados espirituais, que não conseguem caminhar sozinhos pela fé. Se acomodaram com suas muletas. Confiam em homens sem confiar em Deus. Pagam por um milagre, sendo que a igreja recebeu a autoridade para realizá-los, sem custo financeiro algum. 

E fica pior. Quando o milagre acontece, o crédito é dado ao “fulano de tal”, amado líder e mentor espiritual. Mas, se nada acontecer, aí, a culpa é de Deus. Está tudo errado. Não fomos chamados ao comércio, e sim, para a adoração. Para prestar culto ao Senhor.

No contexto religioso, “o culto” pode ser definido como a mais alta homenagem que se presta a uma divindade. Outros sinônimos para o termo na língua portuguesa são: “veneração”, “homenagem”, “admiração”, “reverência” e “adoração”. Fato inegável, é que desde o Éden, período em que o homem esteve diariamente na companhia de Deus, a humanidade tem sofrido com a ausência desta relação intimista com seu Criador, sem ao menos compreender que suas maiores inquietações são oriundas da falta de um contato íntimo e pessoal com Deus.

Todo homem é composto de corpo, alma e espírito, e este espírito veio de Deus e anseia voltar para Deus. E como muitas vezes, nos desligamos completamente do espiritual em prol de coisas efêmeras e temporais, nosso espírito se conturba na ânsia de estar na presença do Senhor, causando a deficiência da tão desejada “paz de espírito”. Um culto é exatamente a exteriorização desta necessidade, quando abrimos mão de afazeres hodiernos e compromissos extraordinários, para dedicarmos um tempo específico ao nosso Deus. 

Em síntese, ele pode ser definido como sendo o encontro do “homem com Deus”, podendo ser praticado individualmente ou de forma coletiva. 

A motivação correta para prestação de um culto é a adoração. Exaltar ao Senhor sobre todas as coisas. Ofertar-lhe todos os aspectos de nossa vida. Uma vez que assim procedemos, algumas benesses recaem sobre nós através da graça e da misericórdia do nosso Deus, como por exemplo, o fortalecimento da nossa fé, a aquietação de nosso espírito e a compreensão do sobrenatural.

Infelizmente, temos prestado “cultos” deturpados tanto na essência, quanto no propósito. Templos religiosos ficam abarrotados de crentes superficiais que buscam apenas seus próprios interesses. Ao invés de prezarem por uma adoração genuína, entregando seu melhor para Deus, só querem “receber” um “milagre” ou ouvir uma palavra direcionada que massageie o seu ego.

A Igreja do Senhor Jesus tem atravessado nestes últimos anos por ondas de modismos e invencionices, que se enveredam rapidamente para o território negro das heresias. Líderes que são adorados quase como seres divinais. Públicos que se engalfinham para ter acesso as gotas “santificadas” do suor de seus pregadores. Templos faraônicos de pura ostentação que trazem de volta ritos e celebrações, que para a Igreja, já foram abolidos na cruz. Desvios doutrinários e teologia forjada em interesses. 

Qual é a saída para homens e mulheres sinceros que desejam apenas cultuar ao seu Deus em “Espírito e Verdade?” 

A resposta passa primeiro pela conscientização da simplicidade do Evangelho, cuja doutrina inalterável pelos séculos é a diminuição do próprio “eu” para que “Cristo” se destaque (João 3:3).

No culto genuíno, não existe lugar para dois senhores. É preciso se esvaziar de toda soberba humana, para que Deus seja entronizado de maneira soberana, e sua palavra seja a única regra de fé a nos guiar. É preciso ter a consciência que não existe avivamento fora da PALAVRA, pois é ela quem liberta, cura, transforma, traz paz e promove a salvação através da Fé. Sem que seja necessária nenhuma dessas peripécias e galhofadas modernas, que são realizadas supostamente em nome de Jesus. 

Aliás, se hoje, Jesus voltasse para a Terra com um chicote nas mãos, poucos templos escapariam de sua fúria (Mateus 21:12-13). 

A triste verdade é que temos investido cada vez mais em cultos pirotécnicos que aprazem aos homens, e menos em cultos sinceros, que agradam ao nosso Deus. A maior benção que podemos receber em um culto, nem de longe é uma cura miraculosa, uma revelação portentosa ou uma descarga poderosa de poder. Mas sim, o simples fato de desfrutar da presença gloriosa de Deus. Recebemos mais, quando pedimos menos.

E quer saber? Reforma já!

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