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sábado, 14 de janeiro de 2017

Ponto de Encontro

Como é necessária a vigilância na guerra, é também preciso maior cuidado na paz.
(Antonio Vieira)


O capítulo 25 de Mateus, é, sem dúvidas, um dos textos mais viscerais de todo o cânon sagrado. Jesus sabia que seu tempo na terra estava se findando, e ainda havia muito para ser ensinado. Então, Ele reuniu os seus discípulos e começou a ensiná-los sobre as verdades mais relevantes do Reino de Deus. E o ensinamento começa com uma orientação muito simples e objetiva: - Estejam preparados para a chegada do Reino!

Em sua forma mais singela (e incrivelmente eficaz) de transmitir a mensagem, Jesus se utiliza de um recurso que lhe era muito peculiar, contando uma história a fim de que o entendimento desta verdade tão profunda, acontecesse naturalmente, de forma sútil, mas, que se enraizasse nas entranhas das gerações. 

Uma história sobre um casamento muito atípico, com dez noivas sonolentas e um noivo bem atrasado...  

Jesus disse: – Naquele dia o Reino do Céu será como dez moças que pegaram as suas lamparinas e saíram para se encontrar com o noivo.  Cinco eram sem juízo, e cinco eram ajuizadas. As moças sem juízo pegaram as suas lamparinas, mas não levaram óleo de reserva. As ajuizadas levaram vasilhas com óleo para as suas lamparinas. Como o noivo estava demorando, as dez moças começaram a cochilar e pegaram no sono (Mateus 25:1-5).

Numa primeira análise, não dá pra diferenciar as noivas. As versões mais originais as chamam de “virgens”. Todas. Sem exceções. Além disto, o contexto nos mostra que “todas” tinham uma lamparina na mão, “todas” possuíam azeite e “todas” as lamparinas estavam acessas. “Todas”, no horário marcado, saíram de suas casas, adornadas e preparadas para se encontrarem com o noivo e adentrarem em sua festa. “Todas” chegaram praticamente juntas, e ali, juntas, permaneceram por longas horas. E “todas” foram pegas de surpresa com um fato nada convencional. O atraso do noivo.

Atrasos em cerimônia de casamento são comuns, toleráveis e até certo ponto, “elegantes”. Isto é claro, se o atraso for da noiva. Poucas vezes em minha vida, vi um noivo que tenha chegado depois de sua amada ao local do casamento (eu sou um deles, pois minha esposa, sufocada pelos minutos que ainda faltavam para casar comigo, se adiantou em sua chegada a igreja). Em outra ocasião nada convencional, vi o ministro chegar à igreja quarenta minutos após a noiva. Um escândalo!

Nada disto se compara ao atraso do noivo desta história contada por Jesus. O camarada chegou com praticamente um dia de atraso, já que no momento em que os primeiros alaridos de sua chegada foram ouvidos, o relógio já marcava quase meia noite, e “todas” as moças, “todas” as dez, sem nenhuma exceção, em algum momento da espera foram vencidas pelo sono. Quando se anunciava a chegada do noivo, “todas” dormiam profundamente.

À meia-noite se ouviu este grito: “O noivo está chegando! Venham se encontrar com ele!” Então as dez moças acordaram e acenderam as suas lamparinas (Mateus 25:6-7).

Todas” as moças acordaram de sobressalto. Limparam os olhos remelentos, baforaram para checar o hálito e tomaram suas lamparinas à mão. Se atentarmos ao texto, veremos que as lamparinas de “todas” estavam se apagando, afinal, todo o azeite contido nos recipientes havia sido devorado durante as horas de cochilo.

Cinco delas, calmamente, abriram suas bolsas e retiraram de lá um pequeno vidro. Abriram e ... ualá... Azeite reserva. A escuridão não era mais problema para elas. As outras cinco, porém, ao revirarem suas provisões, encontraram todo tipo de futilidades (ou não): celulares, escova de cabelo, rímel, perfumes, batom, espelho, remédios para dor de cabeça, agenda, pendrive, e dinheiro... Mas no meio de toda essa tralha, não encontraram nem uma única gota de azeite.

Com um sorriso amarelo no rosto, olharam para as colegas mais precavidas e pediram emprestado um pouco do precioso fluído. Como resposta, tiveram uma negativa respaldada numa cautela digna de elogio – “Não nos levam a mal meninas, mas se emprestarmos azeite pra vocês, ele acabará faltando para todas nós, e corremos o risco de as dez ficarmos no escuro”. Entretanto, o conselho dado em seguida, me parece um pouco... maldoso –  “Ei, temos uma grande ideia! Porque vocês não correm até uma venda e compram mais azeite?” (Mateus 25:8-9)

Comprar azeite? Meia-noite? Que ideia mais estupida! Onde elas encontrariam uma venda aberta àquela hora? E se por acaso encontrassem tal estabelecimento, seria o ambiente propício para cinco donzelas adentrarem? Havia alguma prudência nisso?

Porém, sem medir consequências, as moças saíram em desabalada carreira, rumo à cidade vazia e escura, batendo alucinadamente de porta em porta, mendigando um pouco de azeite. Sem perceber, elas estavam se afastando cada vez mais do local marcado para o encontro. O grande problema é que quando elas se ausentaram, o noivo chegou!

Então as moças sem juízo saíram para comprar óleo, e, enquanto estavam fora, o noivo chegou. As cinco moças que estavam com as lamparinas prontas entraram com ele para a festa do casamento, e a porta foi trancada (Mateus 25:10).

O noivo era zeloso e imponderável. Imediatamente, ele reduziu o número de suas pretendentes pela metade. As conduziu em seu cortejo, entrou com elas no lugar preparado para as bodas e mandou trancar as portas. Ninguém mais iria entrar, e isto incluía as noivas ausente. Mais tarde, estas moças retornaram. Não sabemos se conseguiram o azeite, mas isto já não importava. Elas foram deixadas para trás. 

Correram angustiadas ao lugar da festa e desesperadamente batiam à porta pedindo ao noivo que as deixassem entrar. O noivo, olhando pela janela, deu ordem aos seguranças para que fossem retiradas dali, afinal Ele nem se quer as conhecia. Quando se fica para trás, as desculpas e justificativas já não tem valor algum. E até o seu rosto é apagado da memória.

Mais tarde as outras chegaram e começaram a gritar: “Senhor, senhor, nos deixe entrar!” O noivo respondeu: “Eu afirmo a vocês que isto é verdade: eu não sei quem são vocês!” (Mateus 25:11-12)

Mas, qual será que foi o fato determinante para que o noivo as rejeitasse de forma tão veemente? 

Será que elas eram mais feias que as demais? 

Não! Elas haviam sido escolhidas pelos mesmos critérios. 

Será que foi porque dormiram? 

Não! Afinal todas foram vencidas pela espera. 

Foi porque suas lâmpadas tinham se apagado? 

Não! Ele não as rejeitaria só porque as suas lamparinas estavam apagadas. Afinal, o noivo estava vindo em um cortejo iluminado, e luz para iluminar o caminho até a festa não faltaria em hipótese alguma. 

Então onde está o grande erro dessas meninas? 

Simples. Elas não estavam no local marcado para o encontro.

Faltou azeite? Sim! Isto é um problema? Sempre é. 

Mas sair para conseguir repor esta falta, correndo exatamente na direção oposta ao noivo? Ah, este é o fato que determinou o destino insólito das moças.

E Jesus terminou, dizendo: – Portanto, fiquem vigiando porque vocês não sabem qual será o dia e a hora (Mateus 25:13).

Nesta parábola, a noiva é a Igreja e o noivo é o próprio Cristo, emissário eterno do Reino dos Céus. As dez virgens representam a grande variedade (o que não é um fato positivo) de micro igrejas dentro da única Igreja. Todas as noivas, porém, conhecem as regras: 

- Estejam no local marcado, na hora marcada, com as lâmpadas acessas e azeite na botija.  

O local do encontro é debaixo das asas do Senhor, diante do Trono do Altíssimo, em uma vida de entrega, renúncia e santificação. A hora marcada? Ninguém por aqui sabe. Pode ser a meia noite. Pode ser ao meio dia. Pode ser amanhã. Pode ser antes que eu conclua este texto, ou que você termina a leitura. Por isso esteja pronto para o encontro “AGORA”. 

Se pergunte sobre o que faria se tivesse apenas 24 horas até a volta de Jesus?  Perguntou? Agora lembre-se que você não tem 24 horas!

E se eu pegar no sono durante a espera? A Bíblia diz que o noivo vira com alarido e voz de Arcanjo, mediante o som da última trombeta (I Tessalonicenses. 4:16). Com um despertador destes, não há sonequinha que resista.

E se minha lâmpada apagar? Ora, isso é simples. Reacenda-a! Afinal o Reino perfeito abrirá suas portas para uma multidão imperfeita, que reconheceu suas falhas, erros e pecados, se arrependeu deles e mediante a Graça de Cristo fizeram tudo novo, trazendo nova luz ao seu castiçal (Apocalipse 2:5).

E se o azeite faltar? Simples. Compre! Diretamente do Noivo. Ele é dono de uma venda celestial onde o freguês encontra tudo o que precisa para estar preparado para a grande festa eternal (Apocalipse 3:18).

E o mais importante. Não se afaste do ponto de encontro. Pois se o noivo chegar e não te encontrar lá, não haverá justificavas (por mais nobres que elas sejam) capazes de abrir as portas das bodas para você!


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